Morte diária

 Se eu temesse a morte não teria nascido ou me enquadrado a estar preso em um corpo que me tolhe a liberdade que meu espírito tanto sabe e reconhece ter. Sou a emancipação de todas as descobertas, o poder de todas as escolhas e a repaginação sublime de minha ousadia em ser o que eu tenha de ser diante de mim mesmo. Por isso, sou capaz de sorrir de saudade e chorar por não compreender como somos pobres por nos colocar acorrentados as coisas que apodrecem, fedem e deixam de existir. Quem teme a morte, vive a ilusão de estar sem nunca ter ao certo aproveitado o tempo em se viver. Morto esta, e assim permanecerá, quando os primeiros raios de luz iluminar o caminho. Tememos tantas coisas que nem ao certo saberemos quais delas nos colocarão a mercê de nossa pouca sorte. Já a sorte pode nos ser um grande azar de culpas e cobranças que nos lançam ao apagão disforme de nossa maior cegueira: achar que se vive enquanto tudo passa diante de nossa eterna morte diária.



Eder Roberto Dias 

Comentários